Como em todas as áreas, sempre há as pessoas especialistas e que servem como parâmetro para as outras, ou seja, são referência em se tratando de determinado assunto. Não criação de Aves isso não poderia ser diferente, ainda mais pela sua complexidade. Diante disso, a equipe do Portal Aves e Notícias fez uma entrevista completa com um dos grandes criadores de canários do país, João Batista da Rocha, que também é juiz da Federação Ornitológica Brasileira (FOB).
A equipe do Aves e Notícias visitou o criatório de João Rocha, em Campo Grande, para tentar trazer o máximo de esclarecimento ao leitor do Portal. Veja logo abaixo todos os passos necessários para se iniciar uma criação de canários e conseguir alcançar o sucesso:
Portal Aves e Notícias: Qual é o primeiro passo para se iniciar uma criação?
João Rocha: Para iniciar uma criação é preciso adquirir algumas matrizes com criadores. O criador sempre faz a seleção do seu plantel e disponibiliza alguns pássaros para ceder a outros criadores. Essas aves são ótimas para se iniciar a criação. As lojas ajudam a divulgar a criação. Todos formamos um grande círculo.
AeN: O investimento para se iniciar a criação é alto?
JR: Sempre parto da premissa do mais barato. Comprar uma gaiola boa, usada, de um criador, na média de R$ 50,00. Um casal em torno de R$ 100. O correto é começar com uns quatro casais, para primeiro conhecer as aves e aprender sobre a criação. Agora, depende da euforia da pessoa.
AeN: Qual o maior erro que a pessoa que deseja iniciar uma criação pode cometer?
JR: O grande problema é fazer altos investimentos. Tem gente que pode gastar até R$ 50 mil, mas essa pessoa vai se decepcionar e deixar de criar. Porque os canários não trazem lucro, eles são um hobby. Antes ela precisa conhecer sobre a criação. Comprar alguns casais para aprender o manejo. Saber os prazeres e os problemas de uma criação. Tem que começar com boas gaiolas, uma adequada estrutura. O principal é equipamento e um local adequado, sem correntes de vento e poeira e longe de animais.
AeN: Qual é o ideal para o iniciante: canários de cor ou porte?
JR: Tem que começar com uma linha fácil, que é a linha clara. Aí busca orientação com os criadores e se aproxima da associação, para se associar e receber orientações de um diretor-técnico. Os canários maiores (de porte) exigem mais cuidados. Recomendo que seja criado por pessoas com um pouco mais de conhecimento. No primeiro ano você adquire os canários e aprende a criar. Já no segundo, precisa definir as cores que deseja criar. Tem que criar aquilo que agrada aos olhos. No terceiro é preciso investir um pouco mais para competir nos torneios. O interessante é acompanhar um campeonato brasileiro para ver as cores que disputam e tentar adquirir algumas para competir também. Criar canários é uma incógnita: um iniciante pode tirar um filhote e vencer um torneio.
AeN: Qual é o tamanho ideal de uma gaiola para canário?
JR: A gaiola de criar tem que possuir dois compartimentos para fazer a separação do casal. O padrão é ter 65 centímetros de comprimento, 28 centímetros de largura e 32 de altura, sem pé, e 34 com pé. Ela deve possuir a divisória. Também deve ter um espaço entre a gaiola e o fundo, para evitar que o pássaro tenha contato com as fezes. Também é necessário um papel no fundo da gaiola para absorver as fezes. As fezes são as grandes transmissoras de doenças. Quanto maior a quantidade de aves, maior deve ser a higiene do criatório. Os poleiros das gaiolas devem ser limpos de 10 a 15 dias. Eles são lavados com água sanitária ou cloro, e depois colocados ao sol para secar.
AeN: Como deve ser feita a escolha dos casais?
JR: No caso dos vermelhos, deve ser um macho intenso e uma ou duas fêmeas nevadas. Os casais devem ser formados conforme suas cores, não podendo as mesmas serem misturadas. Tem casos de pessoas que acasalam um macho com três fêmeas. Se quiser criar mais filhotes, pode colocar mais fêmeas. Mas eu não faço isso. Acasalo no máximo um macho com duas fêmeas.
AeN: E as fêmeas não brigam?
JR: Coloco-as na mesma gaiola. No início tem uma briguinha, mas depois eles estabelecem uma hierarquia e não brigam mais. Você precisa colocar um ninho para cada fêmea. Ou ainda colocar os três juntos. A fêmea que aprontar primeiro você deixa na gaiola e a outra você tira e coloca em outra gaiola até ela aprontar. Corto sempre o rabo do macho para identificá-lo. Uma vez galada, a fêmea está fecundada.
AeN: Qual é o período de reprodução do canário belga?
JR: Normalmente vai de agosto a janeiro, mas já cheguei a criar algumas vezes até fevereiro. Mas o melhor mesmo é de agosto a janeiro. A cada 45 dias você tem uma rodada. A fêmea já está com os filhotes grandes e ela começa a preparar o ninho para novamente botar. Nesta época tem que ter muito cuidado, pois algumas fêmeas costumam arrancar penas dos filhotes para fazer os ninhos. Isso é muito prejudicial, porque debilita o filhote e ele pode até morrer se for bastante agredido pela mãe.
Quando você percebe que a fêmea está arrancando pena do filhote, deve ser colocada a divisória na gaiola e dar material para ela confeccionar o ninho. Ela vai tratar seus filhotes pela grade. Algumas pessoas costumam usar as canárias como amas. A canária faz a postura dos seus ovos e o criador permite que eles sejam chocados por ela durante sete dias. Depois desse período, os ovos são colocados em outra canária, para que aquela que botou faça outro ciclo e inicie nova postura. Mas não concordo muito com isso. Acho que desgasta demais a fêmea, porque ela precisa de muitos nutrientes para formar os ovos.
AeN: Quantos dias demora o choco dos ovos?
JR: Os filhotes começam a nascer a partir do 13º dia. A fêmea vai alimentar os filhotes com alpiste e a farinhada. Hoje as farinhadas estão muito completas e trazem todos os nutrientes necessários para as aves. Não gosto de colocar muita coisa na gaiola. Algumas pessoas dão almeirão e couve para a fêmea tratar os filhotes. Eu não faço isso, pois tenho muitas aves e fica difícil. Não condeno quem trata com verduras. Por isso, só trato com alpiste e farinha, o que é necessário para se tratar os filhotes.
AeN: Com quantos dias pode-se anilhar os filhotes?
JR: Os filhotes devem ser anillhados de cinco a oito dias. Isso depende muito do desenvolvimento do filhote. O criador preocupado em anilhar logo cedo terá problemas, pois depois de alguns dias de vida a canária costuma comer as fezes do ninho ou jogá-las fora, e pode acabar arrancando a anilha da perna do filhote. Ela pode ainda machucá-lo, quebrar a sua perna, ou até mesmo jogá-lo para fora do ninho ao tentar retirar a anilha. O correto é anilhar um pouco mais tarde, para se evitar esses problemas. Não há uma regra para definir em qual pé vai à anilha. Isso depende de cada criador.
AeN: Qual a alimentação correta dos canários?
JR: Eu trato meus canários apenas com alpiste, Níger e farinhada. Não dou nem almeirão e nem couve. Não gosto de colocar muita coisa na gaiola. É uma boa água, alpiste e níger de semente. Quando tem que dar algum tipo de medicamento, coloco na água até passar o ciclo de sete dias e mais nada. O almeirão, por exemplo, atrapalha na coloração dos canários vermelhos, pois concorre com a cantaxantina. O criador tem o costumo de querer dar para o pássaro o que ele acredita ser gostoso. Ele coloca maça porque ela é cheirava, mas a fruta oxida facilmente. O criador também ministra algumas farinhadas porque achou elas cheirosas e pensa que a ave vai gostar.
AeN: De que forma os iniciantes podem obter informações sobre a criação? Os livros e revistas podem ajudar a esclarecer algumas dúvidas?
JR: O material mais rico é a revista produzida pelos clubes de criadores na época dos campeonatos. Lá, você encontra algumas dicas e artigos feitos pelos criadores. O interessante é ter artigos de criadores, pois eles vivenciam na prática. Muitas vezes pesquisou três, quatro ou cinco aves e por isso tem a teoria e a prática. Os livros também são bons, mas você precisa conhecer o autor e o produto tem que ter qualidade. O iniciante precisa ler muito sobre aves.
AeN: Quais são as doenças mais comuns nas aves?
JR: As fezes são os grandes transmissores. Poleiros umidades ou sujos também contribuem. O poleiro é um grande transmissor, porque o pássaro fica o dia todo em cima dele. Se não há uma boa higiene, as bactérias oportunas, fungos e ácaros não agem. Por exemplo: se o pássaro tem um ferimento no pé e não há higiene, a bactéria ou fungo entra por aquele lugar e se aloja.
Há também as doenças respiratórias provocadas por ácaros ou correntes de ventos, queda brusca de temperatura, além da coccidiose e a diarréia. Por isso, o pássaro precisa estar sempre bem alimentado para manter a imunidade, pois se ela baixar as doenças afetam as aves.
AeN: Aqui em Campo Grande, como as pessoas devem proceder para obter informações sobre a criação de canários?
JR: Os interessados precisam entrar em contato com a associação, pois aí vai receber orientação especializada. A associação não tem sede própria. As reuniões acontecem na casa dos criadores. O telefone para contato da associação é o 3383-3317.
